CADERNETA DE CAMPO ARGENTINA-BRASIL-PARAGUAI
Caio Cesar Pereira
Cristian Santos
Henrique Silva
Michel Neves
Paulo Palhari
Rafaela Martins
INTRODUÇÃO
O presente
trabalho foi elaborado a partir de um trabalho de campo realizado nos dias 9,
10 e 11, pelos estudantes do 4ºano do curso de Geografia da Universidade
Estadual do Paraná com destino à Foz do Iguaçu-PR, cidade esta que fica na
fronteira de dois outros países com duas outras cidades próximas, cuja uma
delas pode ser considerada cidade irmã da supracitada, são elas: Ciudad Del
Leste - PRY e Puerto Iguaçu -Missiones- ARG. O objetivo foi estudar a Tríplice Fronteira,
a diferenciação na organização das três cidades e ascpectos ambientais
relacionados.
Ciudad Del Leste
Ciudad del
Leste é a segunda maior cidade do Paraguai em termos demográficos e econômicos,
é também um distrito e foi considerada uma das principais cidades comerciais da
América Latina e do mundo.
Fundada em
1957 numa região do Paraguai ocupada principalmente por grandes latifúndios e
escassamente povoada, Ciudad del Leste nasceu com o nome de Puerto Presidente
Stroessner em homenagem ao presidente que tinha assumido três anos antes e que
ficaria ainda por mais 32 anos no poder. Foi fundada para receber a rodovia que
estava sendo construída pelos governos brasileiro e paraguaio e que ligaria a
região central do país com a consta brasileira, rodovia que fazia parte de um
plano mais amplo que havia começado a partir da visita de Getúlio Vargas ao
Paraguai em 1941.
Junto as
primeiras casas comerciais apareceram os primeiros vendedores de rua e outras
pessoas que começaram a ganhar sua vida na infra-estrutura do movimento que
começou a crescer desde então.
A construção
da hidrelétrica de Itaipu (1974-1984) produziu uma profunda transformação
demográfica e infra-estrutural.
A redução de
impostos para importação de produtos do Brasil e da Argentina, a entrada em
vigência do Mercosul e as diversas políticas cambiais reduziram as vantagens
que gozavam tanto Ciudad del Leste como Foz do Iguaçu, produzindo decrécimo da
atividade comercial na região.
No Paraguai,
mesitero é aquele vendedor de rua que trabalha localizado num lugar específico.
A denominação deriva do lugar onde coloca suas mercadorias para vender, sua
meseta. Na verdade, contudo, mesiteros tinham deixado de trabalhar nas mesitas
e instalaram estruturas fixas na rua, as cajuas: caixas metálicas cravadas na
rua onde guardam a mercadoria durante a noite e utilizam-na como suporte para
exibição durante o dia.
A produção
de associações decorrentes dos processos de reconhecimento e negociação de
novas categorias laborais foi uma constante nos dprocessos de legitimação de
todas as categorias emergentes em Ciudad del Leste, sejam cambistas, mesiteros,
mototaxistas, passeros ou ambulantes. A aceitação de cada categoria supôs a
formação de associações que passaram a representa-la frente às autoridades,
ocupando um papel fundamental na regulamentação do trabalho e na regulação
concreta do funcionamento do trabalho.
Ciudad del
Leste passou a ser um lugar de compras para milhares de pessoas que, a partir
da segunda metade da década de 1980, começaram a ganhar sua vida através da
compra-venda das mercadorias lá ofertadas. Os camelôs e as “feiras paraguaias”
das cidades brasileiras são as imagens mais associadas com este comércio.
Contudo, esse comércio não esteve restrito aos círculos de trocas dos setores
populares, sendo o lugar de provisão de certos produtos específicos que se
distribuem nas mais amplas gamas de comércios e circuitos de consumo.
Imagem 1:
Ciudad Del Leste.
Fonte: Pereira,C.C 2014.
Ao descer do
ônibus que nos deixou próximo à Ponte da Amizade, o primeiro aspecto, que
chegou a ser gritante, foi a quantidade de veículos à espera para atravessar a
fronteira com o Paraguai, e uma poluição visual causada pelo excesso de outdoors com anúncios de lojas de Ciudad
del Leste. Ao observar em conjunto a paisagem contendo as duas cidades (Ciudad
del Leste e Foz do Iguaçu) pode-se perceber que existe uma diferença na
“estrutura” e distribuição dos edifícios. Em Ciudad del Leste os edifícios
pareciam mais aglomerados. Saindo da aduana brasileira rumo ao Paraguai, nada foi nos perguntado nem
questionado, assim como ao adentrar a aduana paraguaia.
Um dos
objetivos deste trabalho foi a verificação dos preços de determinados produtos
importados nos diferentes shoppings de Ciudad del Leste e os respectivos preços
no Brasil.
Em relação
aos produtos de marcas mais sofisticadas, puderam ser encontrados nas grandes
magazines e shoppings (Monalisa e Casa China) produtos genuinamente originais.
Isto dito devido à grande fama que têm os produtos “do Paraguai”, notoriedade
esta atribuída aos “picaretas” que tentam nos passa a perna, encontrados
facilmente nas ruas de lá.
Dentre os
produtos ofertados, foi escolhido um perfume da marca Carolina Herera 212 VIP Rosé entre as duas lojas variou U$5 enquanto
que no Brasil o produto pode custar até R$100 mais caro. É claro que isto se
deve à impostos diferenciados nos dois países.
O comércio
na rua se mostrou bastante negociável. Uma das experiências que comprovam este
fato e pode servir como exemplo foi a venda de meias pelos ambulantes: um dos
integrantes do grupo comprou 5 pares de meias por R$10, num outro momento outro
integrante comprou 7 pares pelo mesmo preço, num terceiro momento, outro
integrante comprou 11 pares de meias por R$10. Estas ofertas diferenciadas por
parte dos ambulantes ocorreu pela falta de interesse por parte compradores
pelas meias. Pôde-se observar que a qualidade das meias não era a das melhores,
assim como observado na maioria dos produtos encontrados na rua e barraquinhas.
Também foi observado que itens como bebidas e
artigos eletrônicos não tem um preço melhor não grandes magazines e shoppings,
mais sim em lojas especializadas como a Mega
Eletrônicos e a Macedônia
(perfumes e bebidas). Porém é necessário se atentar para a genuinidade dos
produtos. A melhor forma de não ser enganado é pesquisar com pessoas que vão
frequentemente para lá.
Foi perceptível a falta (ou a presença desordenada)
de uma infra-estrutura em Ciudad del Leste.
A paisagem, desde a saída de Foz do Iguaçu se mostrou
bastante poluída (prédios, outdoors,
fios e ar condicionados). Notou-se pouca cobertura vegetal e alta
impermeabilização do solo.
Dutyfree E Puerto Iguazú – Missiones - Argentina
Primeiramente fomos visitar o Dutyfree que fica logo antes da aduana argentina.
O shopping é bem grande e estava em reforma para
ampliação, a estrutura e decoração são sofisticadas, e as pessoas que lá
freqüentavam aparentavam ser de poder aquisitivo elevado. Era um local
agradável de se estar, mesmo estando em reforma e tinha uma excelente
organização.
Os preços não eram melhores que os encontrados nos
shoppings de Ciudad del Leste e nem muito mais caros, o dólar lá estava cotado
a R$ 2,40.
Não tivemos a oportunidade de tomar nota dos preços
lá praticados, pois ao entrar lacramos os nossos pertences em malotes, que
carregamos lacrados até a saída.
Saímos do Dutyfree
e fomos à pé até a cidade de Puerto Iguazú. Passamos pela imigração, onde fomos
tratados com sorrisos, e seguimos. No caminho à cidade passamos pelo cassino Grand Iguazú.
A infra-estrutura de Puerto Iguazú é bem diferente
que Ciudad del Leste em todos os aspectos: trânsito, rigorosidade na fronteira,
estrutura das ruas (semáforos, faixas, sinalização), etc.Até mesmo pela função
que cada uma delas exerce. Enquanto se percebe que Ciudad del Leste é quase que
completamente comercial, Puerto Iguazú é uma cidade para “se viver”, não
oferencendo uma atividade específica a turistas de não a da própria cidade e o
parque das cataratas do lado argentino.
No dia da visita estava acontecendo um encontro
internacional de clubes de motociclistas, com brasileiros de todas as partes do
país e de outros países da América Latina.
Parque Nacional do Iguaçu
O Parque Nacional argentino foi criado
em 1934 e o Parque Nacional brasileiro, inaugurado no dia 10 de janeiro de
1939,afim de administrar e proteger o manancial de água e o conjunto
do meio ambiente ao seu redor. Os parques tanto brasileiro como
argentino passaram a ser considerados Patrimônios da Humanidade em 1984 e 1986,
respectivamente. É considerada uma Unidade de Conservação e está
situado na região Extremo Oeste Paranaense, a 17 km do centro da
cidade de Foz do Iguaçu.
Na tarde ensolarada em que visitamos o local
pode-se observar um ambiente muito agradável contemplado por muita área verde
(remanescente da floresta atlântica), que abrigam muitas espécies de animais e
plantas, um exemplo disso são os quatis que são considerados um dos símbolos do
Parque, eles são presença constante entre os visitantes.
O
rio Iguaçu é quem banha as cataratas, considerada uma das sete maravilhas do
mundo que conta com 275 cachoeiras ao longo de
2,7 km do rio Iguaçu. No dia da visita a vazão do rio estava
normal, possibilitando uma ótima visão de qualquer parte do parque. O parque é
muito bem estruturado para atender os turistas, proporcionando um melhor
contato do homem com a natureza, conta com pouca área impermeabilizada, ônibus
elétrico e panorâmico, trilhas bem distribuídas, guias turísticos, lojas com
produtos do parque, lixeiras em todo o canto e ótima organização com variadas
opções de passeios pagos (vôos panorâmicos de helicóptero, arvorismo, rapel,
passeio de barco com destino a Garganta do Diabo.
O
instituto Chico Mendes desempenha papel fundamental na conservação do parque
cumprindo a parte que lhe cabe na legislação ambiental, visto que exploram a
área para desenvolver o turismo servindo de exemplo para a sociedade,
harmonizando os recursos naturais as necessidades humanas causando poucos danos
ao meio.
Imagem 2- Parque Nacional do Iguaçu, ao fundo
passeio de barco.
Fonte: Pereira,C.C 2014.
Itaipu Binacional
A Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional foi
construída no período de 1975-1982, e se localiza no trecho de fronteira entre
o Brasil e o Paraguai,14 km ao Norte da Ponte da Amizade, nos municípios de Foz
do Iguaçu, no Brasil, e Ciudad del Este, no Paraguai,e abastecida pelas águas
do rio Paraná.
Logo
pela manhã em visita a Itaipu Binacional nos deparamos com uma visão marcante e
que impressiona qualquer visitante, o tamanho da construção e suas instalações
ao redor, o que significou um marco para a época, correspondido pelo seu
potencial de geração de energia no mundo e isso graças a grandeza do rio
Paraná.
O
potencial energético brasileiro aumentou em muito com o funcionamento de
Itaipu que fornece energia para o sudeste brasileiro, sendo distribuído pelas
linhas de transmissão de furnas.
Um dos principais impactos ocasionados pela
Usina de Itaipu é o alagamento de imensas áreas para a formação do lago e também
a alteração do leito do rio. Além de mudar de forma irreversível a paisagem,
acabou destruindo riquezas naturais como no desaparecimento das sete quedas no
município de Guairá.
Percorremos de ônibus o entorno da usina de
onde foi possível através dos diversos pontos, com variados ângulos para
visualização, perceber a grandiosidade da obra de Itaipu, tendo uma noção da
quantidade de concreto utilizado na obra(figura 2). O tamanho do lago também
era impactante, mesmo que no dia da visita não estava no período de cheia e os
vertedouros fechados.
Mesmo que impactante esse tipo de energia é
responsável por 70% de nossa matriz energética. Itaipu financia programas sociais e ambientais que são requisitos
exigidos de acordo com leis ambientais e movimentos em favor ao meio ambiente,
na tentativa de mitigar os danos e impactos gerados pela instalação da usina
naquele local e por suas ações desde então.
Imagem 3- Usina de Itaipu
Fonte: Pereira,C.C 2014.
Ecomuseu
Na chegada recebemos as orientações sobre
como se comportar nas dependências do museu, uma vez que os objetos que o
compõem são frágeis e antigas.
O Ecomuseu retrata parte da história da
construção de Itaipu e suas fases, nele são guardados os registros de
construção encontrados nas escavações, tipos de animais recolhidos e ainda
maquetes didáticas, de conservação, uso e ocupação do solo. O museu é
interativo, sendo composto por exposições onde é mostrado desde a fase de
ocupação para a construção da Usina até os projetos de conservação ambiental. Dentro
desse roteiro estão atrações como os espaços temáticos de água e energia.
Na parte externa do Ecomuseu encontra-se
algumas instalações como uma roda d’água, moenda com cilindro de pedra, carro
de boi,espécies de plantas e vegetais da região.
Imagem 4- Maquete do Ecomuseu
Fonte: Pereira,C.C 2014.
Faz parte do complexo turístico de Itaipu
esta inserido dentro das instalações do mesmo,e esta bem estruturado para
receber visitas,contando com um enorme arsenal histórico que ajuda na
reconstrução de sua origem.
Refúgio Biológico Bela Vista
Este refúgio imenso é localizado nos
arredores da usina de Itaipu, dentro de seu complexo turístico. Destinado ao
auxilio, recuperação e se possível uma reinserção dos animais ali existentes na
natureza.
Acompanhados por um guia, percorremos o
caminho ate o refugio em uma carretinha, observamos o corredor de piracema
criado pela Itaipu, algumas casas que foram construídas para operários em obras
na época da construção da usina e nesse percurso foi presenciado uma imensa
área de vegetação remanescente. O inicio da visita foi por meio de uma trilha
que na medida em que caminhávamos era possível visitar o recanto de cada animal
(tamanduás, quatis, araras, corujas, jabutis, cobras, jacarés, antas, cachorro
do mato, ariranha, onça pintada, aves de diversos portes, etc.). Todos esses
animais bem amparados pelo refúgio que conta com um excelente hospital
veterinário que é referencia no Paraná, entretanto como destacou o nosso guia,
com poucas chances de sobreviverem na natureza sozinhos. Dentre esses animais
muitos foram abandonados e outros recolhidos da região.
Ao fundo desse refugio, observamos parte do
lago formado com a construção de Itaipu, que por sinal atingiu sua cheia em 14
dias e não em 90 dias como era o previsto. Nesse lago pode-se notar uma
infinidade de galhos secos, possivelmente do topo das arvores inundadas,
representando assim uma escala de como foi a devastação da área com o aumento
do volume das águas.
Atualmente diversas políticas são efetivadas para minimizar os impactos
causados, um fato que merece destaque e apoio visando o progresso que a energia
traz a milhares de famílias brasileiras e paraguaias.
Imagem 5 – Acomodações internas do refúgio
Fonte:Pereira,C.C 2014.
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